A estratégia do Governo para a diversificação da economia e incentivo à produção nacional tem resposta na Zona de Desenvolvimento de Calueque, província do Cunene, onde um grupo empresarial está a montar, numa área de mais de 85 mil hectares, o projecto agro-industrial “Horizonte 2020” para a produção   de carne e leite, açúcar,  rações e cereais (milho e trigo).

Próximo do rio Cunene, o empreendimento vai criar oito mil empregos directos e 37 indirectos. Agosto é o mês do lançamento à terra das primeiras sementes de cereais com a previsão de colheita em Abril do próximo ano.  Em Calueque, o Jornal de  Angola   testemunhou o trabalho de desmatação do terreno e a montagem das bases das unidades industriais para transformação dos produtos.
Na Zona de Desenvolvimento de Calueque, no Município de Ombadja,   está a nascer aquele que pode vir a ser o maior pólo agro-industrial do sul de Angola, a começar pelo investimento previsto – mais de 1.1 mil milhões de dólares – passando pela quantidade e diversidade de agrícolas e pecuários que serão produzidos e transformados localmente com a criação de várias unidades industriais dotadas de tecnologia de ponta e os postos de trabalho que vai gerar.
Situado entre os municípios de Curoca e Ombandja, o projecto “Horizonte 2020” estende-se por um perímetro de mais 85 mil hectares. Uma parte, a maioria, é preenchida com o cultivo de cereais, sobretudo de milho e soja, bem como de  hortícolas. Os restantes hectares estão reservados à actividade pecuária com a criação de gado, sobretudo vacas leiteiras e suínos e como a instalação de unidades fabris, como moagens, matadouros e fábricas de lacticínios.
O conceito agro-industrial do projecto está, assim,  alinhado com uma estratégia para o tornar o mais completo possível, desde a produção até à distribuição passando pela transformação dos produtos.
O projecto é do Grupo Silvestre Tulumba, da província da Huíla, que aceitou o desafio do Governo para transformar uma região tradicionalmente agropecuária e que tem no rio Cunene a sua principal fonte de abastecimento de água numa zona capaz de garantir a produção de bens alimentares para o consumo interno e, também, para  exportação.
O projecto,   constatou o Jornal de Angola, atingiu já uma fase considerada de não retorno, a avaliar pelo volume de obras em curso.
O lançamento da primeira semente à terra está previsto para Agosto deste ano numa área de mais de quatro mil hectares, dos 10 mil desmatados. A área está preparada para receber os primeiros pivôs, dos 400 previstos, para garantir a irrigação sem grandes constrangimentos. Os responsáveis do projecto querem conferir às primeiras sementeiras um simbolismo particular, e em Abril do próximo ano é feita a colheita da produção, a assinalar  o esforço das diversas equipas que trabalham para garantir a sua solidez e robustez.

Produção em grande escala

O cultivo de milho e trigo em grande escala deve  ser o ponto forte do projecto agro-industrial de Calueque, que tem a  garantia de disponibilidade de matéria-prima  para o funcionamento da moagem de milho e farelo.  Esta unidade industrial arranca no segundo semestre do próximo ano e a fábrica de rações começa a funcionar plenamente em 2018. Neste segmento está previsto um investimento de mais de 47 milhões de dólares para uma produção estimada de 47 mil toneladas de farinha de milho e 45 mil de farinha de trigo por ano. Aqui, mais de 372 pessoas têm trabalho garantido.
No projecto agro-industrial de Calueque nada foi deixado ao acaso. Com um investimento de  cerca de 440 milhões de dólares e perto de 800 postos de trabalho directos, da unidade de rações  vão sair  anualmente cerca de 400 mil toneladas de ração para aves, 55 mil toneladas para a alimentação de suínos e outras 50 toneladas para o gado  bovino. Ao estendermos o olhar pelo território do complexo agro-industrial “Horizonte 2020” nota-se um frenesim total. O movimento de viaturas e equipamentos pesados é permanente para garantir o sucesso do projecto com todas as condições para provocar mudança na história agrícola  do sul de Angola.
Outro pormenor notável neste projecto é o trabalho de montagem das bases para todas as estruturas que garantem o funcionamento do projecto, como refeitório, dormitórios, reservatórios de água, oficinas, captação de água, preparação dos locais para o gado e avicultura, constatou o Jornal de Angola.
É uma corrida contra o tempo,   pois 2020 é já no “virar da esquina” e os promotores do projecto querem cumprir integralmente as metas estabelecidas no programa.
“Estamos aqui a trabalhar para mostrar   o potencial de Angola, garantir o fornecimento de bens alimentares à população e ajudar o Executivo no seu programa de combate à fome e à pobreza no país”, diz o empresário Silvestre Tulumba.
Um significativo número de equipamentos está envolvido na abertura de picadas dentro do projecto, que podem atingir cerca de 600 quilómetros, havendo a destacar 18 quilómetros de tapete asfáltico desde Calueque e que pode chegar até à barragem do Ruacana.

Projecto Integrado

O Projecto “Horizonte 2020” foi pensado para tornar todas as suas áreas produtivas auto-suficientes e evitar a dependência das importações, ainda mais numa altura de enormes dificuldades cambiais para aquisição de matéria-prima. Em Calueque, para além da agro-indústria, está  prevista a criação de uma dinâmica rede de armazéns e distribuição da produção para todo o país. O lema adoptado no projecto é “Semear, colher, transformar, produzir, distribuir e consumir”. Um gestor explica: “Em termos práticos, das colheitas que fazem a ração para os animais produzimos o adubo que volta à terra, basicamente, queremos fechar o ciclo e não dependermos de importações.”

Avicultura e bovinicultura

Numa altura em que a “bandeira” do Executivo é a diversificação da economia, a  aposta, pelo projecto  “Horizonte 2020”, na produção de frangos e carne  bovina não podia ser  mais a acertada. E os números avançados ao Jornal de Angola em Calueque sobre a produção e as metas a atingir são, na verdade, impressionantes para aquilo que são os desafios da produção nacional.
Da unidade avícola vão sair anualmente mais de 60 milhões de frangos, 500 mil unidades de galinha rija e 45 milhões de ovos, uma empreitada só possível com a produção de cerca de 400 mil toneladas de ração para aves na unidade industrial a ser montada no complexo.
Na área de bovinicultura, o mercado pode  receber mais de 80 milhões de litros de leite por ano   com o suporte de 26 mil vacas leiteiras e 8.400 bovinos. Anualmente, cerca de 8.300 deste efectivo são abatidos para alimentar a unidade de processamento de carne bovina que é distribuída pelas diversas superfícies comerciais de pequeno, médio e grande porte no país, sobretudo na região sul.
No limite do seu funcionamento, esta unidade industrial, com um investimento acima de 227 milhões de dólares,  movimenta  diariamente pelo menos quatro camiões de leite.
Atento ao potencial pecuário do Cunene, o projecto “Horizonte 2020”  avança com incentivos para incorporar na sua cadeia produtiva todos os pequenos criadores tradicionais da região, a quem vai distribuir vacas leiteiras a importar da Holanda. A produção leiteira destes criadores é encaminhada todos os dias para a unidade de lacticínios do projecto, disse Silvestre Tulumba.
Uma estratégia a trazer lembranças do programa de reactivação, pelo Governo, em 1992, da bacia leiteira do sul de Angola, com a distribuição de 400 vacas então importadas da Holanda às diferentes fazendas que passavam a fornecer o leite à unidade de lacticínios da “Fazenda Jamba”, nos arredores do Lubango. Um complexo industrial de suinicultura vai ser criado e nesta altura as bases para a sua montagem já estão criadas. Quando estiver a operar a 100 por cento tem  mais de duas mil porcas reprodutoras que vão resultar em 47 mil suínos para abate. Preocupações com a ração para essa unidade estão, definitivamente, postas de parte, já que da respectiva unidade vêm anualmente 250 mil toneladas de farelo.
Optimistas, os gestores do projecto “Horizonte 2020” dizem que cerca de 73 por cento da produção é para o mercado nacional  e os restantes para  exportação, o  que é particularmente  significativo numa altura de grandes restrições cambiais, resultado da baixa do preço do petróleo mercado internacional, com o Executivo a avançar  com incentivos aos empresários para a diversificação económica,  com uma aposta  notável nos programas de produção interna de bens essenciais ao consumo da população.
O projecto “Horizonte 2020” prevê, igualmente,   a criação de uma unidade fabril para a produção e transformação de pelo menos 300 mil toneladas de açúcar a partir de grandes plantações de cana-de-açúcar. Pelo menos 500 hectares estão reservados à prdução de hortícolas.  Daqui, segundo os técnicos que trabalham na elaboração do projecto, saem anualmente 15 mil toneladas de bata rena, 7.500 toneladas de cenoura e 5.000 toneladas de cebola.

Inversão do quadro 

Com o surgimento do projecto “Horizonte 2020” inicia-se, também, a inversão de um ciclo marcado com a importação de quase tudo, incluindo cereais e hortícolas da vizinha Namíbia.
“A Namíbia pode deixar de ser um entreposto de alguns  produtos da África do Sul para o território angolano, pois nós podemos  exportar para lá”, disse um jovem empresário que encontrámos em Calueque.
José Charles David, da Fazenda Oshihetekela, próximo do projecto “Horizonte 2020”, é um homem particularmente optimista quanto ao futuro da agro-indústria  nesta região do Cunene. Em 2015 colheu mais de 400 toneladas de batata rena e alho, além de quantidades muito significativas de hortícolas, repolho, cenouras, couves, cebolas e tomate. Estabelecido há mais de 15 anos em Calueque , ele diz que a inversão desse ciclo é perfeitamente possível. “Temos  a água do rio Cunene, terras férteis e, sobretudo, gente disposta a produzir bens alimentares.”
Um ciclo que já começou com o regresso diário e em massa de pessoas, sobretudo jovens, da Namíbia, que aproveitam as oportunidades de trabalho que o projecto “Horizonte 2020” proporciona.
A pé, de carroça e ou de motorizada são às centenas as pessoas que diariamente chegam de diversas localidades da província ao projecto para tentar um  posto de trabalho.
E o sacrifício  vale a  pena. Pelo menos 700 pessoas do Cunene e de outras províncias já conseguiram trabalho nesta fase de  montagem do projecto que vai gerar no seu auge oito mil postos de trabalho directos e 17 mil indirectos, o que é particularmente significativo numa região onde o desemprego atinge níveis assustadores.
Silvestre Tulumba mostra-se satisfeito por dar trabalho a tantas pessoas e anuncia a criação, este ano, de uma academia para a formação técnico-profissional dos trabalhadores do projecto em todas as áreas.
Explica  que a concretização deste desafio contará com o concurso de especialistas de países como o Brasil, Portugal, Espanha, bem como de vários Institutos de formação agrária no país.
O Executivo valoriza muito a transformação, pelo Governo provincial do Cunene, da povoação de Calueque em Zona Económica Especial (ZEE), como um dos passos para o desenvolvimento sustentado da região por via do fomento de projectos agro-industriais. Além de “Horizonte 2020”, outros projectos agrícolas podem surgir nas localidades de Calueque e Manquete, município de Ombadja com a preparação de milhares de hectares para a produção em grande escala de bens alimentares, sobretudo cereais e hortícolas.
O governador provincial do Cunene,  António Didalelwa,  destaca a importância desta zona para o programa de combate a fome e pobreza no seio das famílias camponesas e defende a reabilitação das vias de acesso a Calueque para facilitar o escoamento da produção para os grandes centros de consumo no país e mesmo para a exportação.

Fonte: Jornal de Angola