A campanha ainda vai a meio mas todas as estimativas apontam no sentido de um crescimento da ordem dos 45% na produção de azeite, face aos valores registados no ano passado. Isto num contexto particularmente adverso marcado por incêndios devastadores (que queimaram 8,8 mil hectares de olival) e num ano de seca extrema, com uma grande parte do território nacional a ficar sem água para a agricultura.

Olivicultores de norte a sul são unânimes em falar de acréscimos nas suas produções, com especial incidência no Baixo Alentejo, já responsável por 70% a 80% da produção nacional.

A Casa do Azeite, que representa a quase totalidade dos produtores, aponta para 100 mil toneladas de azeite, contra as 69 mil registadas na campanha de 2016/17. “Apesar de as zonas de produção tradicional de sequeiro estarem a ser negativamente afetadas na quantidade produzida, os rendimentos em azeite têm sido maiores do que o normal”, nota Mariana Matos, secretária-geral daquela organização.

O cenário é considerado “excelente”, por vários agentes do sector, mas podia ter sido muito melhor se a seca não se tivesse prolongado e se algumas produções não tivessem sido devoradas pelas chamas. No seu relatório mensal de setembro, o Internacional Olive Council estimava um crescimento de 58% para Portugal, com a produção a rondar as 110 mil toneladas de azeite.

As exportações deverão crescer entre 5% a 10% este ano, segundo a Casa do Azeite, podendo rondar os máximos vendidos ao exterior — e que se situaram acima das 140 mil toneladas (em 2014). Recorde-se que, embora Portugal seja já autossuficiente no que respeita ao consumo interno, não é ainda em termos de necessidades totais, se considerarmos as quantidades exigidas pelas exportações. Ou seja, Portugal vai produzir perto de 100 mil toneladas; consome 70 mil, mas exporta 123 mil toneladas. Logo, tem de comprar lá fora perto de 100 mil toneladas de azeite.

BRASIL E ANGOLA VOLTAM 
AO RADAR DOS EXPORTADORES

A Casa do Azeite estima que as vendas a terceiros deverão ser impulsionadas sobretudo pelo Brasil e por Angola, países que, após um período de quebras induzidas pelas crises nas respetivas economias, “estão agora em recuperação”. Os outros destinos tradicionais — Espanha e Itália — deverão manter-se.

Francisco Pavão, da Associação de Produtores em Proteção Integrada de Trás-os-Montes e Alto Douro, também confirma a tendência exportadora da região e sublinha o facto de o azeite ali produzido já estar a chegar aos quatro continentes. Confirma que a falta de água afetou o trabalho dos cerca de 37 mil produtores que representa, mas garante que, apesar da quebra ali registada, o azeite vai ser de excelente qualidade, com muito baixa acidez.

Aquele dirigente receia que o pior poderá estar para vir, já no próximo ano. “Como não choveu, as oliveiras não cresceram e isso poderá ter graves implicações na próxima colheita” que, por acréscimo, vai coincidir com um ano de contrassafra (naturalmente menos produtivo).

ÁGUA DE ALQUEVA 
FAZ TODA A DIFERENÇA

Mais a sul, no Baixo Alentejo, Henrique Herculano, do Centro de Estudos e Promoção do Azeite do Alentejo, com sede em Moura, confirma um crescimento na produção da ordem dos 40%. O regadio de Alqueva faz toda a diferença pois leva água onde dantes só existiam culturas de sequeiro.

Por causa do excesso de calor, “os frutos não têm muito calibre, mas apresentam um bom rendimento”, acrescenta aquele responsável. Além disso, e segundo Teresa Teixeira, da Olivum — Associação de Olivicultores do Sul, há muitos olivais novos que estão a produzir pela primeira vez. E, na verdade, ainda há muito espaço para novas plantações, o que permite antever aumentos na produção nos anos que se seguem.

OUTRAS CULTURAS

MILHO

Favorecido 
pela seca. De uma forma geral, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), os dias quentes e secos favoreceram esta cultura e “foi possível garantir as necessidades hídricas das plantas, prevendo-se um aumento de produção de 5% face a 2016”.

TOMATE

Atinge 
1,7 milhões de toneladas. A colheita do tomate 
para a indústria terminou 
na primeira semana 
de outubro, estimando-se 
que a produção alcance 
os 1,68 milhões de toneladas, 
o que corresponde 
a um acréscimo de 5% 
face ao ano passado.

PERA

Cresce 20%.As previsões oficiais apontam para um aumento de 20% na produção de pera-rocha. Devido ao excesso de calor, a colheita teve de ser abreviada para garantir as condições de conservação dos frutos. Contratos internacionais favorecem o crescimento do sector.

MAÇÃ

Não sofre 
com falta de chuva. Como 4/5 da área de pomares é regada, a falta de chuva não causou grandes estragos. O INE prevê um aumento de 25% na produção deste ano, subindo para as 300 mil toneladas. Só no interior norte é que a queda de granizo localizada causou prejuízos.

KIWI

Maior 
produção de sempre. O excesso de calor acabou 
por afetar a fruta, originando calibres inferiores 
ao habitual. Ainda assim, 
o INE estima que esta seja 
a campanha mais produtiva das últimas três décadas, ultrapassando as 30 mil toneladas.

AMÊNDOA

Com recorde 
do século. As previsões do INE apontam para uma produção superior a 20 mil toneladas (+255% face a 2016), uma “situação inédita neste século”. O clima adverso não prejudicou os amendoais, que na sua maioria completaram o ciclo (de amadurecimento).

GIRASSOL

Em níveis de 2014. 18 mil toneladas produzidas, muito longe das 26 mil do ano passado e ao nível das 16 mil de há três anos.

VINHO

À beira de uma boa colheita. Prevê-se um aumento de 10% na produção vinícola. A falta de humidade nos solos e o excesso de calor pode ter condicionado algumas vinhas, mas globalmente esperam-se vinhos de qualidade superior.

ARROZ

Produção em queda. Diminuiu a superfície cultivada e a produção foi a mais baixa dos últimos cinco anos.